Sobre Os sete Loucos, de Arlt

Sete Loucos já se inicia com a confissão de um crime.

Sete Loucos já se inicia com a confissão de um crime. O romance gira em torno de vidas pobres do meio urbano, narradas sem glamour e com toques de Dostoiévski, mas desgraçadamente cômicas e ridículas, com suas traições conjugais, assassinatos mal-planejados e trambiques.

O naturalismo dá lugar ao exagero e a galhofa, tudo é artificial e estapafúrdio. Teorias são expostas por personagens que tudo confundem: as ideias requintadas da Europa viram filosofia de botequim nas mãos do astrólogo charlatão que mistura bolchevismo com nazismo, coletivismo com Nietzsche. As teorias se contradizem mas impulsionam o enredo, projetos alucinados como o de uma sociedade utópica mantida com o dinheiro de uma rede de bordéis fermentam uma linguagem excessiva, saída de uma rádio novela, um tango ou uma mentira de bêbado ouvida dentro de um bonde. Em Arlt ouvimos o segredo das máquinas, o barulho do futuro, os projetos político-teológico grandiosos, tudo contado em uma linguagem nada sutil.

Os personagens de Arlt são sujeitos medíocres e marginalizados, ávidos por fugir do mundo em que estão; por isso aderem à megalomania, aos prostíbulos e ao sexo. Toda a tentativa de descrição séria e realista é dinamitada por uma linguagem que emerge desse mundo subalterno e lhe é fiel porque parece conhecer a matéria de seus sonhos, e não querer dissecar esse mundo com as lentes do darwinismo social. A subjetividade dos personagens contamina o relato de forma expressionista e grotesca; as teorias e sistemas filosóficos não são levados a sério; não há nenhum princípio ou lei que guie o mecanismo narrativo, a próprio ficção é o motor, a ideia de que a mentira move os homens, como sugere o astrólogo. A mentira pode ser vista também em uma chave nobre: a invenção, a fabricação do imaginário como forma de criaturas insignificantes conseguirem respirar em um mundo atroz.

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