O elemento natural mais presente em Glaxo é a terra, o barro que invade a barbearia, trazido pelas obras que sepultam a antiga estrada de ferro. Não só criam a atmosfera de Western, da qual a narrativa depende, mas também dão a ideia de que o tempo já está devorando tudo, engolindo a história dos homens e de seus pecados (ou melhor, mostra como os homens são agentes de entropia, destruindo a ferrovia e com ela algumas marcas de seu passado recente). A história em Glaxo se move por meio do crime e do ocultamento do crime. A violência e a traição ocorrem em um fio que nos conduz até a origem do Estado, mo se os segredos e os crimes fossem se ocultando e se sedimentando até o crime primordial, a violência primeira.
Glaxo é um western não só na estrutura de seu enredo, mas no laconismo de seu primeiro narrador, que deixa nas páginas espaços em branco que representam graficamente a wilderness. Ainda, no tema do heroísmo e como ele circula da cultura pop para os narradores, que se aproximam mais de modelos argentinos crus. O imaginário do faroeste não alimenta só a brincadeira entre amigos, mas a ideia farsesca de heroísmo impulsiona a virilidade estúpida, que pode ser instrumentalizada pela máquina estatal ou explodir em gestor brutais do cotidiano.
Ronsino faz em Glaxo uma fábula que serve de nota de rodapé a toda uma tradição argentina que pode ir do gauchesco a Walsh, passando por Piglia e a história contada por meio de sussurros, ou do Borges que desconstrói a valentia e se aproveita do material fornecido pelo cinema e pela indústria cultural para dizer algo sobre o tempo, a eternidade e os homens (vale lembrar que nessa tradição argentina cabe também o Faulkner, apropriado por Borges em sua tradução de Palmeiras Selvagens, sentido aqui na estrutura da ficção, com seus múltiplos narradores contando versões de uma mesma história).
A pequena ficção de Ronsino, parece humilde, mas reivindica um lugar no panteão argentino, a reordenando e colocando este Glaxo como seu limite.